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Sou professora da ECI/UFMG e meu objetivo para este Blog é criar um canal de comunicação alternativo com meus alunos e amigos reais e virtuais... :)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O TESTE DA BIBLIOTECA: AVALIAÇÃO DA WORLD DIGITAL LIBRARY

POSTAGEM REAPRESENTADA EM 26/11/2010
Aos meus alunos das disciplinas "Acesso a Fontes de Informação em Meio Digital" e "Fontes de Informação para Pesquisadores e Profissionais", a título de exemplo de avaliação de uma biblioteca digital.

TEXTO INTEGRAL DE ENTREVISTA CONCEDIDA AO JORNAL “ESTADO DE MINAS” EM 28 DE ABRIL DE 2009 AVALIANDO A WORLD DIGITAL LIBRARY - BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL.
JORNALISTA QUE SOLICITOU AS INFORMAÇÕES: FREDERICO BOTTREL
ENTREVISTADA: JÚLIA GONÇALVES DA SILVEIRA
PROFESSORA ADJUNTA DA ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO DA UFMG. DEPARTAMENTO DE ORGANIZAÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO.

FREDERICO BOTTREL: 1 - Qual avaliação você faz da navegabilidade e da disposição das informações na Biblioteca Digital Mundial (http://www.wdl.org/)?
JÚLIA GONÇALVES DA SILVEIRA: Considero que a navegabilidade na WDL (BDM, segundo a sigla adotada para a língua portuguesa) não oferece dificuldades de se deslocar pelos nós e pelas ligações previamente estabelecidas pelos seus criadores, decorrentes das marcações propositais, necessárias e convenientes a esse sistema de informação em um ambiente hipermídia e hipertextual.
Quanto à disposição das informações, vejo a escolha do formato de apresentação bastante interessante e condizente com os propósitos da BDM, enquanto espaço informacional que almeja, em última instância, promover o acesso compartilhado e cooperativo, assim como divulgar recursos de informação raros ou valiosos provenientes de todo o mundo. O design que se apresenta, a meu ver, especialmente na página principal, aparenta uma idéia, uma intenção de se colocar as regiões componentes do nosso planeta, como provedoras de informação e de cultura, irmanadas em ideais comuns, aparentemente livres de barreiras, preconceitos culturais e isentos de interesses de dominação.
A interface de navegação em sete línguas, incluindo a língua portuguesa, atenua a questão da barreira lingüística. Os usuários da Biblioteca Digital Mundial têm a possibilidade de executar pesquisas por termos específicos ou pesquisar o catálogo por diversos pontos de acesso à informação, entre eles: local, tempo, assunto, tipo de item, ou por instituição contribuinte. O modo mais simples ou fácil, de uso ao sistema, encaminha o usuário, página por página, para visualizar o trabalho original, frequentemente com uma descrição em várias línguas, o que facilita a expansão do nível de compreensão da informação ali organizada e tratada tecnicamente.
Entretanto, sabe-se que essa e outras ferramentas e recursos de informação, organizados sistematicamente e disponíveis na internet ou em outros canais, veículos de informação e comunicação, redes eletrônicas internas e suportes diversificados, podem apresentar sérias dificuldades de uso para aquelas pessoas que não têm o costume ou cultura de acessar bibliotecas reais, híbridas ou digitais, organizadas e estruturadas, segundo determinados requisitos recomendados para tais sistemas de informação. Problemas relacionados à dificuldade de uso eficiente e eficaz das bibliotecas digitais são constantemente relatados na literatura especializada. Isso ocorre mais frequentemente em paises nos quais as possibilidades de uso de tecnologias de informação e comunicação situam-se em condições de desvantagem em relação a outros paises ditos desenvolvidos. Resultados de pesquisas apontam, e percebo isso claramente em meu cotidiano de trabalho, anteriormente como bibliotecária/documentalista, e atualmente na condição de professora de disciplinas que incluem o acesso a fontes de informação em meios digitais, alguns dos entraves relacionados ao uso mais adequado dos sistemas de informação e/ou das bibliotecas em meios digitais, entre eles: excesso de ansiedade diante de sistemas automatizados, no sentido de exigência de respostas rapidíssimas em detrimento da preocupação que se deveria ter relativa à procedência e qualidade da informação a ser recuperada; uso excessivo ou satisfação consciente ou inconsciente de respostas obtidas apenas através da condução da pesquisa pelas ferramentas de busca, a exemplo da adoção universal e incondicional do Google e de outros buscadores similares; a falta de hábito ou de costume da leitura propriamente dita, já que grande parte dos usuários não orientados adequadamente, no que diz respeito à necessidade de conhecimento da estrutura, características, conteúdos, estratégias eficazes de recuperação da informação e das facilidades que o sistema lhe oferece, geralmente ignoram os manuais de ajuda ou de auxílio aos utilizadores. Muitos usuários, assim que encontram uma caixa ou área para digitar os termos de busca que lhe interessam, inserem palavras, termos ou descritores, desconhecendo totalmente a complexidade da estrutura que suporta todo o processo que envolve a identificação, seleção, tratamento técnico, divulgação e uso adequado de informações. Daí a importância de um maior esforço no sentido de se preparar os usuários ou pessoas para o uso da informação contida em sistemas automatizados. O que significa, em outras palavras, da necessidade de dotá-los de habilidades básicas para o uso da informação e das tecnologias emergentes, enquanto leitores críticos e competentes que devem ser. O manual de ajuda da BDM está disponível, em português, no seguinte endereço: http://www.wdl.org/pt/help.html Acesso em: 27 abr. de 2009. (JGS)

FREDERICO BOTTREL: 2 - E do conteúdo disponível? (FB)
JÚLIA GONÇALVES DA SILVEIRA: O conteúdo informacional é bastante abrangente e diversificado, em termos de procedência regional, assuntos cobertos, período ou tempo (8000 a.C. - 2009 d.C), e de tipos de materiais componentes do acervo. Disponibilizam informações classificadas nas seguintes áreas do conhecimento ou subdivisões destas: ciências sociais; filosofia e psicologia; tecnologia; religião; idiomas; artes, belas artes e artes decorativas; ciências naturais e matemática; literatura e retórica; história e geografia, provenientes de várias partes do mundo e em diversos formatos e idiomas. A equipe parceira se esforçou para incluir, na Biblioteca Digital Mundial, conteúdos importantes e culturalmente significativos sobre cada país-membro da UNESCO (, conforme destacado no arquivo FAQ, do próprio site. Quanto aos tipos de materiais ou itens encontram-se na BDM: mapas, livros, diários, manuscritos, partituras, filmes, fotografias e impressos, registros fonográficos, classificados segundo o sistema de Classificação Decimal de Dewey (CDD) por: lugar, tempo, assunto e tipo de item.

FREDERICO BOTTREL: 3 - Na sua opinião quais são as características fundamentais de uma boa biblioteca digital?
JÚLIA GONÇALVES DA SILVEIRA: A primeira delas é que seja construída para atender necessidades, demandas expressas e potenciais de informações, baseada em conhecimento prévio da comunidade potencial e real a ser atendida. Outros aspectos que devem ser observados, ainda na fase de planejamento ou no decorrer do processo de construção, relacionam-se a qualidade dos serviços a prestar; qualidade do conteúdo digital que comporá o acervo da biblioteca e previsão de acompanhamento de outros pontos importantes, destacados na literatura especializada[1], tais como: especificação dos metadados, catálogo propriamente dito, acessibilidade, pertinência, preservabilidade, relevância, significância, possibilidade de informar se o objeto digital consultado já foi citado, quando e quantas vezes, após a sua criação ou disponibilização para consultas; promover a integração de conteúdos ou recursos de informação heterogêneos; possuir uma interface de busca única, simples e funcional para acesso aos recursos informacionais internos e externos, acessíveis via links; possuir interfaces ergonômicas e adaptativas; possuir interfaces em vários idiomas; respeito aos direitos autorais; interoperabilidade, possibilitando o compartilhamento e transferência de dados e informações; adoção de padrões e protocolos de consenso de aceitação internacional; adotar tecnologias emergentes visando ao aprimoramento de operações tradicionais como classificação, indexação e compatibilização de informações, evoluindo no sentido de adotar preceitos relacionados à gestão de conteúdos, automação de tarefas mais complexas e de propostas voltadas ao desenvolvimento da web semântica, que objetiva essencialmente facilitar a vida das pessoas através de respostas fornecidas pelo agente inteligente acoplado ao sistema de informação.

FREDERICO BOTTREL: 4 - É descartado o exercício de futurologia que vislumbra um tempo em que as bibliotecas digitais substituam os acervos em livros de papel?
JÚLIA GONÇALVES DA SILVEIRA: Não acredito que assim possa ser considerada essa questão, e nem concebo o assunto sob esse radicalismo em termos de exclusão total dos acervos de livros impressos em papel. Creio que conviveremos com a diversidade de suportes de registros das informações e do conhecimento e com a existência de bibliotecas compostas por materiais reais e virtuais. Bibliotecas híbridas, talvez seja a tipologia mais comum por muito tempo, porque duvido que instituições ou pessoas conscientes e sábias abrirão mão de seus documentos originais ou irão descartar, se desfazer de suas fontes primárias, de seus acervos originais e preciosos, que na realidade possibilitaram o surgimento de grande maioria do que hoje encontramos em formato digitalizado e disponível para uso coletivo através das redes eletrônicas e das bibliotecas digitais.

FREDERICO BOTTREL: 5 - Fale um pouco sobre o projeto de biblioteca digital desenvolvido por sua equipe na UFMG. Preciso das informações gerais a respeito. O nome do projeto, objetivos, metodologia, previsão de lançamento e o que mais julgar importante.
JÚLIA GONÇALVES DA SILVEIRA: A pesquisa em andamento que desenvolvo na Escola de Ciência da Informação da UFMG intitula-se: “Fontes de informação para antiquários e amantes das artes e cultura: conteúdos informacionais para construção de uma biblioteca virtual temática”. O objetivo geral pode ser expresso como “construir uma biblioteca virtual temática ou especializada, que possa atender necessidades informacionais de profissionais ou de pessoas e organizações envolvidas com o antiquariato ou interessados em artes e antiguidades de modo geral”. Constitui, de certa forma, continuidade de minha pesquisa de doutoramento, cuja tese[2] objetivou caracterizar o comportamento informacional e identificar fontes de informação preferenciais utilizadas por antiquários, assim como estudar e mapear o fluxo de informação estabelecido por esses profissionais (registrado em livros de memórias de antiquários brasileiros, e em pesquisa de campo realizada com antiquários atuantes na Rua do Lavradio, no Rio de Janeiro) para identificação, seleção, aquisição e atribuição de valor/cotação de objetos de arte, antigos e raros, assim como de outros aspectos relacionados ao uso de informação para tomada de decisão em contextos específicos de trabalho dos antiquários comerciantes e colecionadores.
A metodologia percorrida para a construção da biblioteca virtual envolve a identificação, seleção, tratamento e organização da informação, agrupada inicialmente em formatos de hemeroteca digital, diretórios e guias de fontes de informação diversos e condizentes com os objetivos da pesquisa. As atividades programadas e em execução dizem respeito a: identificação de fontes de informação pessoais e impessoais; definição dos metadados e realização de marcações convenientes à localização posterior e recuperação de informações relevantes e pertinentes, elaboração dos diretórios eletrônicos previstos e preparação técnica dos demais materiais que comporão o acervo da biblioteca virtual especializada.
Nesse projeto, alunos do curso de Biblioteconomia foram agregados formalmente aos trabalhos de pesquisa. Um deles através do Programa Pronoturno, e outro na condição de bolsista de iniciação científica, subsidiado pela Fapemig. No decorrer dos trabalhos de investigação envolvemos outros alunos cursantes de disciplinas por mim ministradas, que elaboraram, sob minha orientação, breves guias de fontes de informação em artes e antiguidades, cujos conteúdos provavelmente serão inseridos na biblioteca virtual. Este ano pretendemos concluir os trabalhos de tratamento de toda a informação já selecionada, bem como implantar e inaugurar a “Biblioteca Virtual Temática em Artes e Antiguidades”, desde que tenhamos o apoio institucional ou de outros prováveis parceiros, relacionado às condições de manutenção de infra-estrutura tecnológica e material necessária. A continuidade de colaboração regular de bolsistas ou estagiários para execução de atividades referentes à inserção de dados e informações na biblioteca virtual em construção também constitui requisito fundamental para o cumprimento do cronograma de trabalho até então definido.

FREDERICO BOTTREL: 6 - Fique à vontade para tecer quaisquer outras considerações sobre o tema.
JÚLIA GONÇALVES DA SILVEIRA Fica para uma outra entrevista ... :) caso haja interesse, obviamente.

[1] GONÇALVES, M. A. et al. What is a good digital library ?: a quality model for digital libraries. Information Processing and Management, v. 43, p. 1416-1437, 2007.
MARCONDES, C. H. et al. (Org.). Bibliotecas digitais : saberes e práticas. 2. ed. Salvador; Brasília: UFBA; IBICT, 2006. 336 p.
[2] SILVEIRA, Júlia Gonçalves da. Fontes de informação de antiquários: proposta de um modelo de análise e de categorização. 232 f. 2006. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

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